Eu gosto de escrever... mas às vezes esqueço. Ou tenho medo de produzir algum texto bem ruim. Mas e daí? Em um livro do Amós Oz – DeAmor e Trevas – o autor cita uma passagem que provavelmente foi uma das mais interessantes que já li:
“Então, o que é autobiográfico nas minhas histórias, e o que é imaginado? Tudo é autobiográfico: se um dia eu escrever uma história sobre o caso de amor entre Madre Teresa e Abba Eban, com certeza vai ser uma história autobiográfica, não há história que não seja confessional”.
Ele prossegue explicando que obviamente o autor sabe sobre o romance entre ele mesmo e seu texto, seja ele feliz ou dramático. Sua obra, no entanto, é para o público e cada leitor deve procurar o que há entre si próprio e o que está lendo naquele momento – não o que aquelas palavras significaram para o escritor. Aquele que o faz, prossegue Amós Oz, é um mau leitor.
Este pequeno parágrafo reproduzido acima me reconforta como poucas coisas na vida. Através
dele eu sei que posso escrever, ainda que publicamente, como em um diário, onde minhas
palavras não apareçam tão claras quanto os sentimentos e os acontecimentos reais. Mas que,
de qualquer forma, elas vão – pelo menos deveriam – significar alguma coisa para quem as está
lendo (seja o texto bom ou ruim, até porque onde não prestar sempre existe a opção de
interromper a leitura bem aí).
Então aqui vai:
Querido diário público, onde todos estão lendo. Boa noite. São quase 00:00h e estou cheia de
coisas pra fazer, mas neste momento me dei o prazer (e não o luxo) de escrever sobre a vida,
sem mais. E hoje, ou melhor, ultimamente, tenho sentido uma vontade imensa de fazer uma
ode a dois grandes milagres: à amizade e ao inesperado.
Amizade não é fácil de se explicar. Um amigo não é aquele que fica pra sempre na sua vida,
nem que necessariamente está pra você o tempo todo. Alguém me disse muito recentemente:
“Um dia eu vou te magoar e você vai me magoar. Existem duas formas de encarar isso, uma é
aceitando e pesando que o relacionamento vale mais do que um vacilo e a outra é ficando completamente chateado” (ok, não foram as palavras exatas, mas ela me perdoa). O inesperado, então, só pela sua definição como é que se traduz em conceito? Nem eu, nem você o estamos esperando de qualquer forma.
nem que necessariamente está pra você o tempo todo. Alguém me disse muito recentemente:
“Um dia eu vou te magoar e você vai me magoar. Existem duas formas de encarar isso, uma é
aceitando e pesando que o relacionamento vale mais do que um vacilo e a outra é ficando completamente chateado” (ok, não foram as palavras exatas, mas ela me perdoa). O inesperado, então, só pela sua definição como é que se traduz em conceito? Nem eu, nem você o estamos esperando de qualquer forma.
Algo incrível me aconteceu neste ano. Estes dois milagres se convergiram para mim. Ganhei da vida amizades inesperadas! Algumas delas são pra sempre, outras talvez não. O que me importa de verdade é que elas estão aqui e agora. E são divinas!
Nós confessamos uma para a outra o quão feias estamos e naquilo que sempre falhamos fatalmente. E depois, consolamos – ou melhor, damos um tapa na cara dizendo a verdade – trazendo à tona que a outra não se enxerga direito. São todas tão lindas e apaixonadas. Inteligentes e tão cheias de charme e de uma ternura! Eu não consigo entender, nem explicar. Então não tento – aproveito e tento me deixar aproveitar. Queiram todas as forças que eu seja para elas o que elas são para mim. Não um porto seguro, não uma bengala. Uma boa risada, uma conversa sincera, um abraço carinhoso, uma crítica dolorida e construtiva. Um sorriso cativante e reconfortante. Uma lembrança, mesmo que de duas horas atrás, daquelas que faz gargalhar.
Ah, a trajetória daquilo que a gente mais planeja e menos consegue controlar: a vida! Fui buscar aprimorar minha carreira e aprimorei, em alta escala, minha qualidade de vida. Minha felicidade. Por uns breves momentos tudo aquilo que a gente acha que está errado – profissão, dinheiro, amores, viagens – parece tão bobo. Porque existem coisas tão melhores para serem aproveitadas que tocam bem no âmago da felicidade. Lá dentro do peito, de onde todos achamos que saem os sentimentos, porque quando estamos felizes ou tristes ele palpita ou desacelera, de alguma forma se manifesta: bem do coração.
Uma homenagem a essa breve felicidade, que em muito infelizmente acaba perdendo para os problemas “reais” do cotidiano. Às verdadeiras amizades e aos sorrisos que vêm de dentro de nós. Que nos são proporcionados por pessoas amadas. Um brinde – até porque as personagens anônimas deste texto não passam sem um copo na mão – ao percurso. Ao não deixar se perder durante o caminho – porque, felizmente, tem alguém te puxando de volta!
Heart pra você, querido diário! J